De vez em quando, a gente se pega se auto sabotando. Isso não é diferente na moda, quando dizemos para nós mesmos que precisamos de uma calça nova porque as outras várias calças do guarda roupa não combinam com tal blusa ou não servem para tal ambiente. A gente perde a criatividade e o amor pelo que já tem, para procurar ter mais coisas que só serão úteis até virmos a próxima calça do momento em uma digital influencer.
Tudo é muito rápido para nós: o vazio, o desejo, a ansiedade, o deslize, a compra, a felicidade e o vazio novamente. Toda hora procuramos um objeto para suprir nossas feridas internas, para ganhar atenção de quem nem conhecemos e para se sentir bonita(o) dentro de um padrão que nunca deveria ter sido imposto… mas também, pudera, já que ficamos o dia inteiro conectadas(os) nas redes sociais de marcas que nos enchem de coleções a todo instante, e em perfis de pessoas públicas que fazem milhares de vídeos sobre uma mesma publicidade, para tornar aquele produto cada vez mais popular e, ilusoriamente, parecer descolado e interessante.
Sempre foi assim: desde à infância, através dos produtos de desenhos animados e propagandas de tv que dão uma falsa “vida” aos brinquedos, passando pela adolescência, com os tênis da moda, as roupas e celulares que personalidades famosas estão usando, até a fase adulta, em que um quer ser maior e melhor que o outro, colocando o TER em primeiro lugar. “Se eu tenho eu não sou?” Não. Você só é se não precisa ter para ser, entende?!
A angústia em ter algo pode se tornar absurda e compulsiva. Sair não será interessante se você não tiver aquele vestido da loja para vestir. Contas, despesas e dívidas serão esquecidas, porque você só pensa em ter aquelas roupas novas no guarda-roupa. As pequenas coisas boas do dia a dia, os pequenos bons momentos, serão substituídos por eternos “Preciso comprar aquela bolsa da marca x”, que vão perseguir sua mente a toda hora, inclusive durante o trabalho. Comprar uma roupa se tornará uma forma de compensar todo o estresse do dia a dia. Quando você não comprar, só pensará em comprar. As verdadeiras coisas que são relevantes e que importam serão jogadas para debaixo do tapete, como se adquirir tal roupa fosse a solução para todos os problemas.
Falamos aqui de um problema nada individual e extremamente coletivo. Os novos ventos da moda quebram essa ideia de que moda deve ser consumida em excesso. Por outro lado, ainda é um desafio transformar essa teoria em prática no cotidiano dos consumidores. Que novas mensagens atinjam à todos que buscam um modo mais leve de viver.
Você não precisa de tanto. Se o que consome te atrapalha, faça uma limpeza. Elimine marcas e perfis das redes sociais, utilize menos a internet, procure gastar um tempo com a sua saúde mental e física. Você importa e não o que você tem.
Esse texto é uma parcela segmentada de um tema mais amplo, discutido no vídeo da Ellora Haonne. Veja o vídeo clicando aqui.