No dia 23 de outubro aconteceu em São Paulo no JK Iguatemi o evento Iguatemi Talks Fashion, evento que trouxe comunicadores, designers e representantes do meio fashion para debater questões da atualidade. Umas das maiores palestras foi a de Ermenegildo Zegna e Christian Louboutin, palestras que pude conferir por streaming diretamente do Shopping Iguatemi de São José do Rio Preto, em um evento para convidados da cidade que trabalham com o nicho. Com o apoio da consultoria de moda e comunicação, Cora Soares, o evento contou com a transmissão das duas conversas e se estendeu pela tarde com palestras de outros convidados.

Ermenegildo Zegna é CEO da marca tradicional e familiar de alta-costura masculina, Ermenegildo Zegna, e Christian Louboutin é um dos maiores nomes do design de moda que se destacou com os icônicos sapatos de solado vermelho. Em um apanhado geral, os dois bate-papos foram sobre a construção das marcas e a forma como elas lidam com as novidades dos últimos anos.
O que vemos acontecer aos poucos com a alta costura é um período de morte. Não levando tão fortemente a palavra em consideração, mas a alta costura realmente passa por um processo de migração. Com a vinda em peso das fast fashions, todos os públicos podem comprar uma peça que esteve na última semana de moda, tirando grande parte da exclusividade criativa que essas marcas possuíam. Os altos preços fizeram com que o público optasse por opções mais baratas das tendências do que uma opção bem mais cara. Essa mudança de comportamento dos compradores forçou as empresas a adotarem novos métodos de marketing e de design.
Durante a palestra um assunto questionado ao Ermenegildo e ao Christian foi a respeito da criação de uma moda mais casual na alta costura para a geração do milênio. Realmente existe um novo apelo ao público jovem, com uma abordagem mais urbana e cheiro de novidade. As grifes querem se tornar marcas de desejo dos adolescentes e na verdade precisam deles, pois mesmo que não sejam seu primeiro tipo de público, em breve eles se tornarão definitivos para fazer com que a empresa prospere.
O bate papo com Ermenegildo Zegna foi de fato muito enriquecedor e foi perceptível a forma como ele entende os novos tempos, mas consegue inserir a tradição na marca mesmo assim. Para o CEO, o objetivo não é modificar o mecanismo que já é tradição, mas entender como lidar com o mecanismo em um mundo muito mais contemporâneo. Ele argumenta sobre a necessidade em adquirir o mindset do milênio para inserir a marca nas plataformas digitais, por exemplo, mas que o mais importante é criar um know-how dentro e fora dela, atendendo efetivamente um público online, mas também um público físico que ainda prefere conhecer a marca e seus processos de perto.
A visão de Gildo é muito inteligente e progressista para a alta-costura. Ele também conta sobre o projeto da marca que investe anualmente em bolsas de estudos para jovens no intuito de criar uma nova geração de talentos para a Itália. Outro tópico é a preocupação com o meio ambiente, mesmo que a marca trabalhe com produtos de origem natural e animal, como a lã para produzir seus aclamados tecidos. Mesmo que cheia de pontas soltas e ainda com um grande trajeto para conectarem essas pontas, pensar em questões como educação e sustentabilidade guia a alta-costura para um novo olhar de valores.
Existe um grande respeito por esse segmento, pois ele desencadeou muito da arte na moda, inseriu novos olhares respeitosos aos designers e permitiu a exclusividade das peças por muito tempo. Um exemplo claro é Christian Louboutin, um homem que ao pintar o solado de seus calçados ganhou notoriedade pela criatividade e exclusividade de seus produtos. Hoje a banalização fashion tornou as marcas de alta-costura “dispensáveis e absurdas”, por cobrarem tão alto em produtos que em breve serão replicados e estarão na maioria das lojas mundiais.
Um ponto bem interessante que Ermenegildo toca, é no fato das promoções. A Zegna não realiza promoções, e o que pode parecer um “tiro no pé” é na verdade uma tática de proteção nessa nova era. A intenção é que a marca não entre na zona de popularização e não se torne trivial. Essa restrição acontece não só para garantir a exclusividade da Zegna em alguns closets da classe mais rica, mas também para não facilitar a cópia e a falsificação. Existe uma necessidade em valorizar as criações da marca e preservá-las para que se mantenham originais no mercado.
Mas então, o que fazer para que a alta-costura não morra excluída de tudo que é tendência de mão de obra barata? O que fazer para tornar as marcas menos formais e mais atrativas aos millennials? A resposta pode não estar em se adequar a marcas mais acessíveis, mas em modificar o sentido de casual no mercado de luxo e trabalhar ao lado do que é urbano. A comunicação ganha leveza e humor para atingir públicos que não se prendem mais a formalidades.
Christian Louboutin colore as solas de tênis despojados e autênticos, enquanto a Zegna possui a sua linha Z Zegna para o público mais jovem. Aparentemente a alta-costura resolve aos poucos sair do mesmo lugar e ocupar novos espaços para desenvolver futuramente um novo espelho de moda que refletirá a autenticidade de quem as veste.
Ainda há muito o que aprender.