Em uma segunda feira, dia 6 de agosto de 2018, o Grupo Abril anunciou a descontinuação de diversas publicações, como forma de reestruturar o grupo que agora tem como Marcos Haaland (diretor geral da consultoria Alvarez &Marsal) CEO do grupo. Entre nomes como Mundo Estranho, Boa Forma, Cosmopolitan, Casa Claudia e Bebe.com, se encontra um dos títulos mais importantes para a moda nacional, Elle. Com essa divulgação, entra em cheque duas enormes tristezas: uma perda jornalística e uma perda no mundo fashion.
Há quem veja por fora e não compreenda a magnitude que a Elle representa na construção da moda que vemos hoje, uma moda que saiu do campo mercadológico e sociológico, e que entra cada vez mais no campo psicológico e individual. Com a vinda em 1988, o título conseguiu trazer o novo, o jovem, o luxuoso, mas também o acessível. Foi a primeira revista a conquistar espaço no meio digital, a levantar questões de liberdade individual, a abordar questões importantes e necessárias como feminismo, questões de gênero, diversidade e até mesmo mudanças para visões sustentáveis e conscientes.
Não há como não evidenciar a Elle como contemporânea e importante em tempos onde outras publicações evidenciam tendências, mascaram questões de diversidade e de gênero e não exploram a essência magnífica e tão necessária da moda, uma essência que dá sentido, que alimenta sonhos e que constrói novos paradigmas. Um veículo tão agregador como esse está sendo mais uma vítima da nova era digital que aos poucos suga os veículos impressos. Porém a pergunta que alguns leitores provavelmente farão será: “Por que não manter uma versão digital?”. Talvez pela busca de novos ares ou talvez por falta de uma boa estratégia.
Não é de hoje que o Grupo Abril vem cancelando publicações e tentando se adaptar ao crescimento desenfreado da internet. O conteúdo de muitos veículos impressos é facilmente encontrado em sites, blogs, canais, redes sociais e até mesmo em aplicativos. Entretanto, conteúdos como o da revista Elle sempre foram bem mais densos e úteis para quem consome conteúdos de moda. Descontinuar a revista pode ser realmente reflexo de um consumo online maior, mas por que descontinuar um site? É aí que entramos em um paradoxo. Muito entra em jogo, a leitura rasa e rápida dos internautas pode ser um enfraquecedor do conteúdo mais rico, mas então, por que a revista não foi mantida, já que essa possui um conteúdo mais vasto do que os rasos conteúdos da web? Por ser um nicho muito específico talvez? Por que precisamos reeducar a visão das pessoas sobre moda? Acredito nas duas opções, porém a segunda explica a primeira e muitas outras. Talvez o grande sucesso e importância da Elle não seja levada em cheque justamente por como a moda é vista, consumida e replicada, por como ela é desvalorizada e objetificada. Por mais que esse cenário esteja mudando, ainda existe um mundo onde ser fashion é possuir roupa e não possuir conhecimento.
O que se espera agora é que novos veículos digitais comecem a investir em moda com profundidade, honrando o legado de veículos como a Elle.
