Fotos: Yasmin Araujo
Foi em uma manhã de sábado, 28 de abril, que a Unibes Cultural, instituição cultural localizada em São Paulo, abriu as portas para sanar uma dúvida que cresce cada vez mais na mente de quem aprecia moda: Quem fez as minhas roupas? O evento que planta desde 2013 essa dúvida na mente das pessoas quer muito mais do que trazer a resposta, quer uma verdadeira revolução fashion.
O Fashion Revolution traz durante todo o mês de abril debates, palestras e workshops em todo o mundo, que reforçam a importância em banir o trabalho escravo e avançar para uma produção muito mais consciente e preocupada com o meio ambiente. O dia 28 foi o dia mais importante do evento e reuniu importantes representantes de moda consciente aqui no Brasil.
Das 10h às 20h, o local se tornou palco de debates, oficinas e mesas de conversa, além do Fashion Revolution Fórum, um fórum para fomentar a pesquisa sobre o desenvolvimento sustentável na cadeia de produção fashion.
Para dar início ao evento, o Teatro da Unibes exibiu o documentário River Blue, documentário que denuncia a poluição dos rios provocada pela indústria têxtil. A realidade exposta no filme choca e traz uma realidade oculta nas tristes e cruéis marcas de moda, onde além do meio ambiente, milhares de trabalhadores se encontram em situações críticas, onde recebem muito pouco e são expostos à milhares de produtos químicos utilizados na confecção de roupas.
Em seguida, Marina Colerato (Modefica) e Nathalia Anjos (Voice 176) deram início a mesa de conversa #MulheresNaModa, onde abordaram sobre como a desigualdade de gênero afeta a sustentabilidade e a maior responsabilidade nesse meio e como isso pode ser aos poucos transformado.
Foi um debate muito rico e expansivo ao que diz respeito à diversidade de gênero na moda. É muito comum acreditar que a moda é representada por mulheres, entretanto essa realidade distorcida foi observada em uma simples dinâmica. O público escreveu nomes de personalidades femininas conhecidas nesse meio e o resultado foi espantoso: um pequeno grupo de mulheres foi citado diversas vezes nos vários post its coloridos cedidos pelas participantes da mesa de conversa. Isso demonstra como mulheres ainda não ocupam lugares de destaque e liderança, até mesmo em profissões dominadas por mulheres como na moda. Essa desvalorização de gênero e a falta de voz ativa feminina afeta diretamente em como as empresas lidam na questão sustentável e para mudar isso é necessária a imposição e a luta pela equidade.
O próximo debate trouxe a tona as reais mudanças e necessidades existentes 5 anos após a tragédia no edifício Rana Plaza, desastre que fez milhares de vítimas e deu origem ao Fashion Revolution.
A coordenadora nacional do Fashion Revolution Brasil, Fernanda Simon, mediou o encontro dos participantes, sendo estes o deputado Carlos Bezerra Junior, Antônio Mello (coordenador de projeto de Trabalho Forçado da Organização Internacional do Trabalho), Soledade (CAMI – Centro de Apoio e Pastoral do Imigrante), e a estilista Flávia Aranha. Estes debateram sobre como o trabalho escravo é muito presente na indústria têxtil, trouxeram dados dessa realidade no país e falaram sobre os imigrantes, que são um dos maiores grupos a trabalharem em piores condições no Brasil. Fernanda Simon apresentou também as conquistas após 5 anos do desastre no Rana Plaza, conquistas que só mostraram ainda mais o quanto é preciso continuar batalhando.
A mesa de conversa que se seguiu trouxe Lilian Pacce, uma das maiores representantes do jornalismo de moda no país, além de Rafael Morais (co-idealizador da semana de moda sustentável Brasil Eco Fashion Week), Claudia Kievel e Gladys Maria Tchoport (criadoras do Jardim Secreto fair) e a mediadora da mesa Ana Carolina Fonseca de Olyveira (proprietária e designer da marca Jouer Couture).
O papo da vez era abordar sobre comunicação e consumo consciente, como levar a mensagem sustentável adiante, não só na moda, mas em todos os âmbitos. As várias perspectivas dos participantes trouxeram distintos olhares e atitudes que podem gerar uma “onda” de conscientização que aos poucos adere novos integrantes. Além disso, é notável como existe uma grande conexão entre figuras mais percebidas na moda do país, como Lilian Pacce, e novos projetos como o BEFW de Rafael Morais, pois enquanto um traz novas ideias sustentáveis, outro dissemina estas ideias e assim sucessivamente. Essa dependência mútua faz com que existam cada vez mais ideias para que sejam cada vez mais divulgadas.
O último debate conferido pelo Capytu foi uma conversa sobre a importância da transparência no mercado fashion e a apresentação de um novo projeto que será oficializado em outubro: O Índice de Transparência da Moda no Brasil. A importância desse debate é de fato mostrar a todos o quanto as marcas apresentam as origens e os processos de suas produções, o quanto compartilham seus impactos ambientais, sociais, suas práticas e suas políticas.
Um evento muito rico e reflexivo para fazer com que se saia de lá buscando conhecer a fundo a origem do que se veste e se essas origens respeitam quem produz e quem consome. Não é mais possível fechar os olhos para uma realidade tão crítica e cruel, tão egoísta e vaidosa, tão violenta e ocultamente feia. A moda acaba por construir falsas identidades em pessoas que acreditam somente nas roupas que estão expostas em uma vitrine, e é muito além disso. Ainda bem que não é mais possível fechar os olhos. Ainda bem que resolveram abrir.