Como a indústria da moda no século XXI padroniza a identidade social.
É possível observar em um mesmo shopping center várias indústrias grandiosas da moda, mais conhecidas como fast fashions, que invadem cidades e conquistam o consumo de pessoas que querem acompanhar as últimas tendências pagando pouco, mas o que poucos percebem é que esse investimento acaba saindo muito caro para a nossa própria construção pessoal. A melhor alternativa diante de uma produção desenfreada e individual é investir no poder do slow fashion e na boa e velha produção à mão.
Já se foi o tempo em que era comum ir em costureiras para reproduzir uma peça que fosse vista nas passarelas, ou no corpo de atores e cantores. Em pleno 2018, o acesso à moda está extremamente prático, rápido e barato, além de toda tendência surgir no dia seguinte (se não no mesmo dia) em que foi lançada em lojas de fast fashion de todo o mundo. Um estilo pode ser facilmente inserido em novos contextos sociais com lojas “rápidas” (C&A, Renner, Riachuelo, Zara, etc) e com o conceito “see now, buy now” (veja agora, compre agora), conceito que foi investido nos últimos anos para lançar coleções no mesmo dia em que são estreadas em grandes desfiles e semanas de moda. Toda essa produção em massa acarreta em pessoas que buscam um único e triste ideal: vestir o que os influenciadores, socialites e artistas vestem… Ou simplesmente usar porque “todo mundo” usa.
Aos poucos, o que vestimos acaba simbolizando apenas se estamos atualizados nas últimas tendências e se parecemos com os perfis famosos do Instagram ou do Tumblr. No entanto, o grande problema não está em se inspirar em tendências e personalidades para construir uma identidade própria, o problema está em copiar uma identidade que não te representa. Essa falta de representatividade própria, acarreta em diversos transtornos psicológicos que promovem a falta de autoaceitação.
Um estudo único e inédito realizado no Hospital das Clínicas, de São Paulo, pela médica Luciana Conrado, constatou que 14% daqueles que buscam os consultórios de dermatologia apresentam algum transtorno de imagem. Segundo uma publicação feita pela Revista Brasileira de Psiquiatria, entre 1% a 2% da população mundial sofre de dismorfia corporal, um distúrbio que provoca aversão à aparência.Todos esses dados apontam realidades provocadas por diversos “gatilhos” de um mundo globalizado, porém com o que vemos nas passarelas e com a vida “perfeita” de influenciadores nas redes sociais, ficamos sujeitos a essa depreciação.
É fato que as grandes marcas de moda trouxeram acessibilidade e proporcionaram um universo fashion muito mais democrático, que alcance grandes grupos sociais nas mais diversas realidades econômicas, porém também é fato que estilos como grunge, punk e hippie, que traziam movimentos sociais muito mais fortes do que as roupas, não existem mais com essa “padronização fashion”. As roupas contam histórias, mas atualmente elas passam a contar status.
Para controlar a “explosão” das fast fashions, devemos além de buscar novas alternativas, voltar nosso olhar para as simples alternativas que sempre estiveram à nossa disposição. As marcas de slow fashion (baixa produção) estão em ascensão e conquistam cada vez mais espaço no mundo da moda. Além disso, por que não valorizar as pessoas que costuram peças sob medida e de forma totalmente original pra você? Com essa vertente tomando força, os preços alcançam um valor considerável, e não se torna caro investir em uma peça bem mais autêntica e que perpetue a essência pessoal na hora de se vestir. Eventos atuais na moda estão aos poucos debatendo sobre essa identidade que necessita estar expressa no que cada indivíduo veste. É preciso entender que não é uma roupa que “escolhe” o consumidor, mas o consumidor que escolhe a roupa que melhor o representa.